Este espaço é destinado a todas as pessoas interessadas em divulgar trocar experiências sobre educação, psicopedagogia e inclusão, para que juntos possamos romper as barreiras da exclusão e desigualdade humana. Sabendo que somos iguais com toda nossa diversidade.

"Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão" (Paulo Freire)
















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Profissionais dedicadas e apaixonadas pelo que fazemos. Rosa:Graduada em pedagogia pela Universidade Federal do Amapá com especialização em Educação Especial e Inclusão Socio Educacionalpela Faculdade Santa Fé (MA) Rejane: Professora,Pedagoga pela Universidade Federal do Amapá(AP). Psicopedagoga clinica e Institucional-faculdade Santa Fé (MA)Especialização na educação de alunos com deficiência visual IBC (RJ) em Educação Especial e Inclusão social faculdade Santa Fé (MA). Estamos a disposição para consultoria,palestras, cursos e oficinas com foco em Educação Especial.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais ou LSB LIBRAS, ou Língua Brasileira de Sinais

 LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais ou LSB LIBRAS, ou Língua Brasileira de Sinais, é a língua utilizada pela maioria dos surdos brasileiros e, como tal, poderá ser aprendida por qualquer pessoa interessada pela comunicação com essa comunidade. Como língua, esta é composta de todos os componentes pertinentes às línguas orais, como gramática semântica, pragmática sintaxe e outros elementos, preenchendo, assim, os requisitos científicos para ser considerada instrumental linguístico de poder e força. Possui todos os elementos classificatórios identificáveis de uma língua e demanda de prática para seu aprendizado, como qualquer outra língua. Foi na década de 60 que as línguas de sinais foram estudadas e analisadas, passando então a ocupar um status de língua. É uma língua viva e autônoma, reconhecida pela linguística. Pesquisas com filhos surdos de pais surdos estabelecem que a aquisição precoce da Língua de Sinais dentro do lar é um benefício e que esta aquisição contribui para o aprendizado da língua oral como Segunda língua para os surdos. Os estudos em indivíduos surdos demonstram que a Língua de Sinais apresenta uma organização neural semelhante à língua oral, ou seja, que esta se organiza no cérebro da mesma maneira que as línguas faladas. A Língua de Sinais apresenta, por ser uma língua, um período crítico precoce para sua aquisição, considerando-se que a forma de comunicação natural é aquela para o qual o sujeito está mais bem preparado, levando-se em conta a noção de conforto estabelecido diante de qualquer tipo de aquisição na tenra idade. (Extraído de www.feneis.com.br) Ao se atribuir ás línguas de sinais o status de língua é porque elas, embora sendo de modalidade diferente, possuem também estas características em relação às diferenças regionais, socioculturais, entre outras, e em relação às suas estruturas porque elas também são compostas pelos níveis descritos acima. O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas orais-auditivas é denominado sinal nas línguas de sinais. Os sinais são formados a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. Estas articulações das mãos, que podem ser comparadas aos fonemas e às vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros. Nas línguas de sinais podem ser encontrados os seguintes parâmetros: • Configuração das mãos: são formas das mãos, que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou outras formas feitas pela mão predominante (mão direita para os destros), ou pelas duas mãos do emissor ou sinalizador. Os sinais APRENDER, LARANJA E ADORAR têm a mesma configuração de mão e são realizados na testa, na boca no lado esquerdo do peito, respectivamente;

 • Ponto de articulação: é o lugar onde incide a mão predominante configurada, podendo esta tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical (do meio do corpo até a (cabeça) e horizontal (à frente do emissor). Os sinais TRABALHAR, BRINCAR, CONSERTAR é feitos no espaço neutro e os sinais ESQUECER, APRENDER e PENSAR são realizados na testa;


• Movimento: os sinais podem ter um movimento ou não. Os sinais citados acima têm movimento, com exceção de PENSAR que, como os sinais AJOELHAR e EM-PÉ, não tem movimento;
 Tem movimento:



 Não tem movimento:




• Orientação/direcionalidade: os sinais têm uma direção com relação aos parâmetros acima. Assim os verbos IR e VIR se opõem em relação à direcionalidade, como os verbos SUBIR e DESCER, ACENDER e APAGAR, ABRIR-PORTA e FECHAR-PORTA;




• Expressão facial e/ou corporal: muitos sinais, além dos quatro parâmetros mencionados acima, em sua configuração têm como traço diferenciador também a expressão facial e/ou corporal, como os sinais ALEGRE e TRISTE. Há sinais feitos somente com a bochecha como LADRÃO, ATO-SEXUAL; sinais feitos com mão e expressão facial, como o sinal BALA, e há ainda sinais em sons e expressões faciais complementam os traços manuais, como os sinais HELICÓPTERO e MOTO. Na combinação destes quatro parâmetros, ou cinco, tem-se o sinal. Falar com as mãos é, portanto, combinar estes elementos para formarem as palavras e estas formarem as frases em um contexto. Para conversar, em qualquer língua, não basta conhecer as palavras, é preciso aprender as regras gramaticais de combinação
destas palavras em frases e serão estas
regras gramaticais que
iremos ver
poucos.


Maria Rosa Lopes

Identidade Cultural Surda na Diversidade Brasileira

Identidade Cultural Surda na Diversidade Brasileira Patrícia Luiza Ferreira Pinto Resumo: Os conceitos de Surdez no que refere à diferença e à deficiência, o etnocentrismo da tradição oralista, as Identidades Surdas, o multiculturalismo são pontos relevantes neste trabalho. O enfoque deste trabalho é a Identidade Cultural Surda dentro do contexto multicultural, perpassando as várias fases da História dos Surdos, no contexto do Oralismo, nas relações sociais, na sua trajetória para romper a homogeneidade, aos momentos atuais e desafios na educação. Abstract: Deaf concepts linked to the notions of difference and disability, the ethnocentrism of the oralist tradition, deaf identity and multiculturalism are relevant aspects of the present paper. The focus of this article is the deaf cultural identity within a multicultural context which goes through the various phases of the history of deaf people from oralism, to social relations, in their journey towards the breakthrough from homogeneity to the present moments and challenges in education. ................ "Somos notavelmente ignorantes a respeito da surdez, muito mais ignorantes do que um homem instruído teria sido em 1886 ou 1786. Ignorantes e indiferentes(...). Eu nada sabia a respeito da situação dos surdos, nem imaginava que ela pudesse lançar luz sobre tantos domínios, sobretudo o domínio da língua. Fiquei pasmo com o que aprendi sobre a história das pessoas surdas e os extraordinários desafios (lingüísticos) que elas enfrentam, e pasmo também ao tomar conhecimento de uma língua completamente visual, a língua de sinais, diferente em modo de minha própria língua, a falada. (...)" Oliver Sacks Percorrendo a Trajetória Surda Dentro das comemorações dos 500 anos do Brasil, o momento é oportuno para repensar as diferenças que situam a diversidade brasileira. O tema escolhido se presta a discutir relações sociais no Brasil, expressando o tema não como uma forma mais radical para os processos de humanização e construção das identidades, mas como um novo pensar e repensar as diferentes culturas, as quais levam o ser humano a se descobrir como indivíduo, se constituindo em sua própria identidade, dentro de sua própria cultura. É relevante a produção deste trabalho sobre a (re)construção das Identidades Culturais, os processos das trajetórias dos Surdos na tão sonhada diversidade, rompendo a tradicional homogeneidade, tão arraigada no nosso imaginário social. Importa delinear a utópica Cultura Surda, à qual se refere Oliver Sacks: somos ignorantes no que diz respeito à surdez, especialmente no ponto de vista antropológico. Este trabalho, resultado de descobertas e impasses na minha trajetória enquanto Surda, pretende discursar as relações sociais dos sujeitos Surdos, do Movimento Surdo, captando suas trajetórias dentro do multiculturalismo. Saliento que este tipo de discussão possui complexidades, e seria necessário um novo olhar na educação que, sem sombra de dúvida, é um dos alicerces da humanidade, tão primordial para a aceitação das diferenças, em oposição à homogeneidade. Explicito, neste trabalho, os termos diferença e deficiência no que tange à surdez, delineando a trajetória do Movimento Surdo, as suas peculiaridades, a sua importância no multiculturalismo, fazendo referências sobre a Cultura Surda, discursando ainda sobre a tradição oralista como ponto eqüidistante da degradação da Cultura Surda e no quanto esta tradição prejudica a construção da Identidade Surda, dando margem à idéia de que é possível o Surdo ser normal, ser ouvinte, uma vez que essa é uma concepção etnocêntrica da realidade. E ainda conceituo identidade e também as Identidades Surdas, lutas e intempéries dos sujeitos Surdos na (re)construção da identidade. Assim, para realizar estes escritos, embarquei em concepções da autora Gladis Perlin, por considerar significativo o seu pensamento e a sua luta pela causa surda. Farei um paralelo entre a situação do Brasil-colônia em relação à pátria-mãe, Portugal, que precisou ser emancipado da sua situação colonizadora para ter, enfim, o direito a buscar o progresso desejado com a necessidade de emancipação de um novo currículo adaptado às necessidades do sujeito Surdo, diferente do tradicional, o qual é voltado para uma idéia implícita de que o Surdo é colonizado, dominado pelo ouvinte, submetido à sua hegemonia cultural. E ainda estarei discutindo a educação, apontando a necessidade de discorrer no espaço escolar o novo repensar sobre as lutas sociais. Por fim, faço a conclusão do trabalho com um desafio às contraposições e adversidades reveladoras no imaginário social, traçando as trajetórias dos Surdos no processo de construção da Identidade Surda, marcada por lutas, intempéries, impasses, ambigüidades e emoções. É uma forma de resistir aos movimentos opacos e homogêneos. Neste trabalho, sinto-me empenhada pela causa surda, busco ser o mais fiel possível às minhas descobertas e às narrativas de outros Surdos. Estou ciente da produção do conhecimento nesta obra, procurando ser fiel às exigências e normas científicas, sem abusar de sentimentalismos, buscando expressar objetividade no tema proposto, sem, entretanto, deixar de me emocionar com a Surda que sou, que vem construindo a sua história, sua Identidade Surda, engajando pelo longo processo de lutas e resistências contra o Ouvintismo. Surdez: diferença ou deficiência? A discussão sobre os termos diferença e deficiência se presta aos olhares, vivências, conhecimentos diversos da sociedade, do imaginário social e se faz necessário esclarecê-los. Portanto, a minha primeira tarefa é permear uma diversidade de conceitos e termos, particularmente nos campos da antropologia e da medicina. Ao longo do trabalho, a questão da surdez, estereotipada pelo imaginário social como algo deficiente, de menos valia e patológico, se fez testemunha de forma árdua e marcante. A discussão dentro de uma visão clínico-patológica não é o objetivo deste trabalho, visto que esta não é a perspectiva a ser aspirada pela Comunidade Surda, pelos pesquisadores Surdos e ouvintes. Estabelecer uma nova perspectiva que vise reconhecimento à Identidade Cultural Surda é a prioridade máxima. No transcurso deste trabalho, estes termos diferença e deficiência são usados e explicitados de forma a tornar claro o seu significado. Pretendo lançar um novo olhar sobre os Surdos, no que tange à Identidade Surda. Etnocentrismo: tradição oralista O Oralismo é uma filosofia educacional que propõe o ensino da língua oral para que o sujeito Surdo se integre ao mundo ouvinte, pressionando o ensino da fala como essencial, algo que lhe desse status, o que não corresponde às condições ideais para que o sujeito Surdo adquira linguagem e forme o pensamento. O etnocentrismo tem a tendência de postular a cultura dominante e vigente como padrão para as demais culturas, partindo do princípio de que os seus valores e a sua cultura são superiores, os mais esmerados, os mais adequados. A questão do etnocentrismo é constantemente marcante na Educação dos Surdos, particularmente na tradição oralista, perpassando por vezes fragmentada e questionada nas representações sobre a surdez. E se faz necessária uma análise mais profunda dessa tradição oralista na Educação dos Surdos, mostrando as suas múltiplas facetas. Ao longo deste século, a Educação dos Surdos vem assumindo uma concepção oralista, como Ideologia Dominante, através de uma visão clínica sobre o sujeito Surdo, o qual é tratado como deficiente, não se pensando na sua diferença lingüística. A educação oferecida aos Surdos tem enfatizado demasiadamente o ensino da fala como suposta devolução da humanidade. Extremamente concentrados nesta tarefa, os educadores perdem de vista a importância da formação da Identidade e Cultura Surda para o Surdo, deixam de formá-los enquanto cidadãos críticos e muito pouco se confrontam a trabalhar o sentido real do conceito da eqüidade, a qual busca a igualdade sem, entretanto, eliminar a diferença. Como disse Skliar (1998: 07): "As idéias dominantes, nos últimos cem anos, são um claro testemunho do sentido comum segundo o qual os surdos correspondem, se encaixam e se adaptam com naturalidade a um modelo de medicalização da surdez, numa versão que amplifica e exagera os mecanismos da pedagogia corretiva, instaurada nos princípios do século XX e vigente até nossos dias. Foram mais de cem anos de práticas enceguecidas pela tentativa de correção, normalização e pela violência institucional; instituições especiais que foram reguladas tanto pela caridade e pela beneficência, quanto pela cultura social vigente que requeria uma capacidade para controlar, separar e negar a existência da comunidade surda, da língua de sinais, das identidades surdas e das experiências visuais, que determinam o conjunto de diferenças dos surdos em relação a qualquer outro grupo de sujeitos." (grifo meu) Nesse sentido, a negação da Cultura Surda, da Língua de Sinais, das Identidades Surdas é inerente à tradição oralista imperativa nas escolas, com o pressuposto de que o Surdo é estigmatizado como deficiente auditivo, que carece de educação oralista, que sofre de patologia, necessitando de especialistas para restituir-lhe a fala. Identidades Surdas: conceitos e heterogeneidades O estudo da identidade se fez presente de forma árdua. Foram diversos os autores pelos quais embarquei procurando definir, discutir, analisar e, apesar do termo ser amplo, muito discutido nas pesquisas contemporâneas, me aterei apenas às descobertas da autora Gladis Perlin, particularmente às Identidades Surdas. Para PERLIN (1998: 52) a identidade é algo em questão, em construção, uma construção móvel que pode freqüentemente ser transformada ou estar em movimento, e que empurra o sujeito em diferentes posições. Conceituar a identidade é dizer que a mesma não é inata, está em constante modificação, partindo da descoberta, da afirmação cultural em que um certo sujeito se espelha no outro semelhante, criando uma situação de confronto, e ainda segundo PERLIN (1998: 53), a identidade surda sempre está em proximidade, em situação de necessidade com o outro igual. O sujeito surdo nas suas múltiplas identidades sempre está em situação de necessidade diante da identidade surda. Para discutir as experiências vivenciadas pelos sujeitos Surdos na sua Identidade Surda, através da construção, resistência, batalha e dominação em vista da presença hegemônica ouvinte, usarei um conjunto dos termos, não podendo dissociá-lo do processo histórico. Gladis Perlin critica a influência do poder ouvintista que prejudica a construção da Identidade Surda: É evidente que as identidades surdas assumem formas multifacetadas em vista das fragmentações a que estão sujeitas, face à presença do poder ouvintista que lhes impõem regras, inclusive, encontrando no estereótipo surdo uma resposta para a negação da representação da identidade surda ao sujeito surdo. O termo identidade, que melhor atende à temática surdez, é usado na busca do direito de ser Surdo. De acordo com a trajetória vivenciada pelos sujeitos Surdos, nas suas lutas e intempéries, o tema (re)construção da Identidade Surda é sempre usado ao responderem à pergunta – o que é ser Surdo no Brasil? Ao longo do último século, tem sido travado um verdadeiro embate imposto por alguns Surdos ao redor do mundo, devido ao processo histórico da colonização sobre os sujeitos Surdos, no que se refere à medicalização, à normalização, levando à degradação da Língua de Sinais, da Cultura Surda, das Identidades Surdas. Em resposta a essa colonização, o Movimento Surdo tem dado início à criação de Associações de Surdos como uma resistência contra a cultura dominante, contra a ideologia ouvintista. O foco do nosso olhar é o sujeito Surdo, com suas peculiaridades. O termo Surdo é carregado, no imaginário social, de estigma, de estereótipo, de deficiência, e significa a urgência da necessidade de normalização, em antagonismo ao conceito da diferença, como disse PERLIN (1998: 54): o estereótipo sobre o surdo jamais acolhe o ser surdo, pois imobiliza-o a uma representação contraditória, a uma representação que não conduz a uma política da identidade. O estereótipo faz com que as pessoas se oponham, às vezes disfarçadamente, e evitem a construção da identidade surda, cuja representação é o estereótipo da sua composição distorcida e inadequada. Afirmo a necessidade de uma nova visão sobre o sujeito Surdo, que é diferente e não deficiente. Por que não podemos repensar o nosso olhar? O que o sujeito Surdo tem de diferente? Segundo PERLIN (1998: 56) ser surdo é pertencer a um mundo de experiência visual e não auditiva. Viver uma experiência visual é ter a Língua de Sinais, a língua visual, pertencente a outra cultura, a cultura visual e lingüística. Há de se considerar outro conceito da Identidade Surda, de relevância política, dentro do multiculturalismo, de igual importância para outros movimentos sociais, pela batalha contra a ideologia dominante: a Identidade Política Surda. É um movimento pela força política em prol da nossa diferença... é uma luta contra o estigma, contra o estereotipo, contra o preconceito, contra a deficiência e especialmente contra o poder do ouvintismo. Cultura Surda no multiculturalismo Discussões referentes à Cultura Surda têm sido travadas nos dias atuais, levando à impossibilidade de definir sobre o que seja a Cultura Surda. Entretanto, algumas questões serão levantadas com o pressuposto de seguir os estudos culturais, que propõem pensar a surdez numa perspectiva antropológica. Não me aterei objetivamente ao termo, discursarei sobre movimentos de lutas e batalhas pelos Surdos pela sua Cultura Surda num espaço multicultural. O multiculturalismo se expressa, como sucessão no mundo contemporâneo, para que os sujeitos sociais valorizem, expressem suas diferenças, suas culturas específicas, em busca da afirmação cultural. É um movimento social em oposição a todas ações homogeneizadas da vida social. É uma oposição a todas as tentativas dos outros a imprimirem a cultura dominante, vigente sobre uma outra cultura pré-existente: a Cultura Surda. Conceituar o multiculturalismo é falar sobre o reconhecimento do jogo das diferenças que se constrói socialmente nos processos interligados nos diferentes contextos. Muitas vezes, o multiculturalismo se constitui em um fecundo movimento de lutas sociais, de ação cultural de um suposto grupo, que por diversas vezes se sente discriminado, excluído pelos outros segmentos da sociedade por suas peculiaridades. Neste espaço multicultural, são deparados os movimentos sociais como negros, Surdos, índios, homossexuais, mulheres, judeus... que lutam pelas mudanças propulsoras para que cada um ser possa conviver com a diferença, que possa fazer valer seus direitos civis, direitos humanos, direito de ser pertencente a minorias lingüísticas, culturais, étnicas ou religiosas em antagonismo aos movimentos dominantes, vigentes, homogêneos. Faço minhas as palavras de PERLIN (1998: 57): é preciso manter estratégias para que a cultura dominante não reforce as posições de poder e privilégio. É necessário manter uma posição intercultural mesmo que seja de riscos. A identidade surda se constrói dentro de uma cultura visual. Essa diferença precisa ser entendida não como uma construção isolada, mas como construção multicultural. Herança colonial Seria relevante discutir a questão do Brasil colonizado por Portugal, que foi libertado da colonização portuguesa no ano de 1822. Durante a dependência, o Brasil foi submetido às mais duras pressões políticas e ideológicas no que se refere à exploração econômica, cultural, inclusive a lingüística, uma vez que, anteriormente à Língua Portuguesa, era a língua tupi-guarani utilizada pelos primeiros brasileiros, os índios. Dentro deste contexto, com a colonização portuguesa sobre o Brasil, foi necessária a batalha pela Independência em busca do direito a ser uma Nação livre e dona do seu próprio destino. Nesta perspectiva colonizadora, paralelamente à Cultura Surda e à Língua de Sinais, discuto sobre a colonização do ouvinte sobre o sujeito surdo, no quanto foi necessário a este se desprender da grande parte das suposições de que o surdo é deficiente auditivo, da imposição da Língua Portuguesa para o sujeito surdo – como se isso fosse lhe conceder um status privilegiado -, e desconceituar de que é possível o surdo ser normal apenas na perspectiva ouvintista. Apesar desta concepção, ainda impera fortemente a colonização sobre os surdos, que sem voz nas mãos, são amordaçados culturalmente sem poder expressar a sua Cultura Surda, sem poder expressar seu pensamento através das suas mãos, através da sua Língua de Sinais. Ainda há um longo caminho a trilhar, ainda que tenham bons resultados erigidos pelo Movimento Surdo, há batalhas a serem vencidas, lutas a serem travadas... Conclusão Estamos rente a um novo milênio, portanto é conveniente que adotemos uma nova perspectiva em relação a um futuro cada vez mais próximo. E uma nova perspectiva implica preencher um espaço que outrora fora habitado por uma concepção concordante com a mentalidade vigente da época, mas que atualmente torna-se ultrapassada e não deve mais se sustentar, a não ser em seus alicerces ruinosos que não mais se alinham à superfície das novas descobertas. Ser Surdo, judeu, negro, índio, enfim, ser diferente dos demais configurados como normais na concepção patológica da medicina não mais deve ser motivo de isolamento, exclusão social, estigma, preconceito, mas sim, este é o momento propício para que ocorra uma mudança profunda na visão e costumes dos povos, fazendo com que os diferentes se fundam ao contexto sócio-histórico e se tornem nada mais e nada menos do que sempre foram não só aos olhos da natureza, mas também aos olhos daquilo que todas religiões definem com Deus: Iguais. Por que iguais? Pois antes de explicitarmos qualquer diferença entre este ou aquele indivíduo, todos se esquecem da essência que os constitui a todos, haja distinções ou não, todos são humanos muito antes de qualquer outra coisa. E esta humanidade é uma luz que deveria recair sobre todos aqueles que selecionam atributos separatistas, que segregam e dividem os indivíduos em grupos a serem odiados, expatriados, isolados, mas nunca integrados, compreendidos, aceitos no contexto sócio cultural que, querendo ou não, todos coexistem em um grau maior ou menor de proximidade e convivência. A educação é um instrumento de mudança. É ela que, direta ou indiretamente, conduz as transformações cruciais em nossa sociedade, em nossa história, pois ela carrega o cerne da manifestação humana - a comunicação - ferramenta indissociável de qualquer cultura onde a presença central se constitui em torno do ser humano. Com a educação, repassamos as informações através da história, e a cultura permanece, sustentando a existência do homem e expandindo-a cada vez mais, delineando os contornos que marcam sua presença, sua existência. Mas para que a educação dos sujeitos Surdos seja possível, usando como exemplo a idéia de que a água só entra em uma garrafa se nela existir um orifício ou uma superfície permeável, analogamente em qualquer indivíduo, a cultura somente se interiorizará se ela for conduzida por um canal viável que torne possível sua recepção clara e concisa, situação nem sempre presente na maioria dos métodos educacionais que se julgam eficientes por beneficiarem um grande número de indivíduos, os quais, pelo visto, certamente não são os Surdos. Portanto, a exclusão social implica uma exclusão cultural e a ausência da cultura leva-nos à expectativa de que uma outra implicação se imponha, alojando-se no centro das significações, para aqueles que estão excluídos: Se os Surdos não podem se expressar, se não lhes é facultada a chance de se constituírem como sujeitos em suas próprias identidades culturais para que possam vir a se manifestar, restará a estes seres humanos a oportunidade de existir? Ou mudaremos nossas expectativas, eliminaremos os impasses, os temores que emanam da idéia do que significa diferença e adotaremos uma visão multicultural iniciando uma eterna caminhada juntos a partir deste novo milênio? Referências Bibliográficas ARRUDA, Angela (Org.). Representando a alteridade. Petropólis: Vozes, 1998. GERNER DE GARCIA, Barbara. O multiculturalismo na educação dos surdos: a resistência e relevância da diversidade para a educação dos surdos. In: SKLIAR, C. (Org.) Atualidade da educação bilíngüe para surdos. Porto Alegre: Mediação, 1999. GONÇALVES, Luiz Alberto C; SILVA, Petronilha Beatriz G. O jogo das diferenças: o multiculturalismo e seus contextos. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1997 – Tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. MOREIRA, A.F.B e SILVA, T.T. da. Currículo, Cultura e Sociedade. São Paulo, Cortez Editora, 1995. PADDEN, Carol; HUMPHRIES, T. Deaf in America. Voices from a culture. Cabridge: Harvard University Press, 1988. PERLIN, Gladis. Identidades Surdas. In: SKLIAR, C. (Org.) A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 1998. __________. Identidade Surda e Educação. In: BERGAMASCHI, Rosi I.; MARTINS, R. Discursos atuais sobre a surdez. Canoas: La Salle, 1996. SACKS, Oliver. Vendo Vozes – uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998 - Tradução: Laura Teixeira Motta. SILVA, Tomaz. Currículo e identidade social: territórios contestados. In: _____ (Org.) Alienígenas na sala de aula. Petrópolis: Vozes, 1996. SKLIAR, Carlos (Org.). Educação e exclusão. Abordagens sócio-antropológicas em educação especial. Porto Alegre: Editora Mediação, 1997. __________. Os estudos surdos em educação: problematizando a normalidade. In: _______ (Org.) A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 1998.

 Maria Rosa Lopes

18° CIAED Congresso Internacional ABED de Educação a Distância

Eventos 2012 - 18° CIAED Congresso Internacional ABED de Educação a Distância Divulgando: CHAMADA DE TRABALHOS 18° CIAED Congresso Internacional ABED de Educação a Distância “Histórias, Analíticas e Pensamento “Aberto” – Guias para o Futuro da EAD” São Luiz - Maranhão 23 a 26 de setembro de 2012 Excepcionalmente no ano de 2012 a exigência de que todos os autores dos trabalhos científicos devam ser associados a ABED com o pagamento da anuidade em dia será suspensa. Para o ano de 2013 está exigência será reavaliada. Informações no site : http://www.abed.org.br/congresso2012/

quarta-feira, 16 de maio de 2012

MUTISMO SELETIVO

HISTÓRIA E DEFINIÇÃO SOBRE O MUTISMO SELETIVO O primeiro caso de mutismo seletivo relatado na literatura foi descrito em 1877, por Kussmaul, médico alemão que se deparou com pacientes que não falavam em algumas situações, apesar de terem habilidade lingüística para tal (KRON, WECKSTEIN, WRIGHT, 1999). Ele denominou inicialmente esses sintomas de afasia voluntária, por lhe parecer uma decisão voluntária de não falar (CLINE & BALDWIN, 2004; KRATOCHWILL, 1981). Mas foi o psiquiatra Morris Tramer, em 1934, que utilizou pela primeira vez o termo mutismo eletivo para descrever um caso clínico. Tramer condicionou o termo “eletivo” para descrever aquelas crianças que selecionavam lugares e pessoas para não falar (KROLIAN, 1999). Este termo foi utilizado até a publicação do DSM-III (APA, 1987), sendo substituído por mutismo seletivo com a publicação do DSM-IV (APA, 1994). “Seletivo”, tal como o termo indica, enfatiza que otranstorno é seletivamente dependente do contexto social: parte das crianças só fala com um grupo específico de pessoas e em certos locais, enquanto a grande maioria fala somente com pessoas de sua própria casa ou do núcleo familiar maisfechado (GUTENBRUNNER, HENNIGHAUSEN, HERPERTZ-DAHLMANN, POLLER, REMSCHMIDT, 2001). Os critérios diagnósticos segundo o DSM-IV (APA, 1994) são: A. Fracasso persistente em falar em situações sociais específicas (nas quais existe a expectativa de falar, como por exemplo na escola), apesar de se capaz de falar em outras situações. B. Perturbação que interfere na realização educacional ou ocupacional, ou na comunicação social. C. Duração mínima de um mês (não limitada ao primeiro mês na escola). D. Fracasso para falar que não se deve a um desconhecimento ou desconforto com o idioma exigido pela situação social. E. Perturbação que não é bem explicada por um transtorno da comunicação (ex. tartamudez), nem ocorre exclusivamente durante o curso de um transtorno global dodesenvolvimento, esquizofrenia ou outro transtorno psicótico. O diagnóstico para mutismo seletivo recai sobre um sintoma primário: “fracasso persistente em falar nas diversas situações sociais específicas (nas quais existe a expectativa para falar, p. ex. na escola), apesar de falar em outras situações” (APA, 1994, p. 149). Outros critérios importantes para um diagnóstico diferencial podem auxiliar o diagnóstico do MS, são eles: os sintomas requerem uma duração mínima de um mês, a recusa em falar nas situações não-familiares à criança, deve interferir diretamente com o funcionamento educacional, ocupacional ou com a comunicação social e a criança não deve apresentar problemas com o conhecimento da linguagem, desordem de comunicação, distúrbio pervasivo do desenvolvimento, esquizofrenia ou outros distúrbios psiquiátricos (APA, 1994). A maioria dos estudos de caso descreve crianças que falam livremente no ambiente mais reservado da família, em casa, mas, quando se encontram em lugares diferentes de seu núcleo familiar, apresentam diminuição da freqüência de fala ou setornam mudas. Manifestam comportamento ansioso e tímido, não respondem nem iniciam conversas, ainda que essas solicitações sejam feitas por pessoas que fazem parte da sua intimidade, com as quais em outros ambientes falam livremente. Uma definição oferecida por Meyers (1999, p. 204) diz o seguinte: Mutismo seletivo se refere a uma forma de comportamento relativamente raro, na qual crianças que apresentam desenvolvimento da linguagem apropriado para a idade elegem permanecer em silêncio, falando unicamente com pessoas que ela seleciona. O pequeno círculo íntimo com quem o mutista seletivo fala é frequentemente formado por membros familiares, parentes e amigos íntimos. Esta recusa seletiva para falar independe da formação intelectual ou status neurótico. Mutismo seletivo é um sintoma de problemas familiares que expressa conflito familiar e está embutido na dinâmica da família. Crianças portadoras do mutismo apresentam uma grande variação de comportamento, por isso, encontramos na literatura algumas divisões do MS em subtipospara facilitar a classificação deste transtorno. Silverman & Powers (1970) incluíram três definições adicionais aos critérios do DSM-III (APA, 1987): a) a criança deve exibir um comportamento de não falar por um período de dois anos; b) a criança deve apresentar uma inteligência média; c) a criança não consegue modificar seu comportamento de mutismo após tratamentos comuns. Segundo os resultados de um longo estudo realizado por Wilkens (1985), o mutismo pode ser dividido em dois subtipos: a) mutismo persistente: os sintomas persistem por mais de seis meses, manifesta-se em mais de um ambiente, a criança deve ter mais de cinco anos e o transtorno deve existir de forma constante; b) mutismo transitório, a criança tem cinco anos ou menos de idade, os sintomas devem estar se manifestando há menos de seis meses, o transtorno se apresenta com intervalos ou de forma inconstante e o mutismo restringe-se a manifestar-se num único ambiente. Baseado numa revisão de 68 casos de portadores de MS, Hayden (1980) identificou quatro subtipos de mutismo seletivo: a) mutismo simbiótico, caracterizado por uma relação simbiótica com aquele(a) que cuida dele(a) e por uma relação negativista e manipuladora controlando os adultos em volta dele(a); b) mutismo com fobia para falar, caracterizado por um medo de escutar sua própria voz, acompanhado de comportamento obsessivo-compulsivo; c) mutismo reativo, caracterizado por timidez, retraimento e depressão, que aparentemente parece ser resultado de algum evento traumático na vida da criança; d) mutismo passivo-agressivo, caracterizado por um uso hostil do silêncio como se fosse uma arma. Crianças manifestando MS têm sido descritas como tímidas, retraídas, ansiosas, opositivas, controladoras e com pobres performances escolares (BLACK & UHDE, 1992; DALLEY & POWELL, 1999; TANCER, 1992). Quanto à sua duração, na classificação de transtornos mentais e de comportamento, a CID-10 (1993) não especifica essa condição para se fazer o diagnóstico, e o DSM-IV (APA, 1994) indica duração mínima de um mês. Mas esse período tem sido discutido em trabalhos publicados, gerando-se uma alternativa maior da duração da condição para um diagnóstico mais preciso, a fim de se evitar a inclusão de reações de mutismo transitório, que é um sintoma frequentemente encontrado nas crianças que começam a freqüentar a escola ou passam por outros eventos traumáticos. Brown & Lloyd (1975) descrevem os resultados de uma pesquisa na qual foram avaliadas 6.072 crianças que estavam iniciando atividades escolares no jardim de infância, descobriram que 42% das crianças não falaram até por oito semanas após o início das aulas, apesar de falarem em outros ambientes. Numa avaliação após doze meses, descobriu-se que 90% das crianças desses 42% que originalmente não falaram na fase inicial da escola já se comunicavam. Os autores consideraram assim que esse comportamento mudo nos períodos iniciais constituía tão somente uma condição de reação adaptativa. Ou seja, esse mutismo inicial pode ocorrer em crianças que estão entrando na escola, e pode representar uma ansiedade de separação normal ou um transtorno de ajustamento. Por isso, alguns autores têm proposto o alargamento da duração da sintomatologia para um período mínimo de seis meses (KOLVIN & FUNDUDIS 1981; WILKINS 1985; GUTENBRUNNER et. al., 2001). Quanto às características associadas, estudos importantes descobriram que as crianças com mutismo avaliadas demonstraram alta incidência de patologia na família e desarmonia entre os pais, em relação aos grupos de controle. Vários estudos notaram inicialmente fatores de risco associados ao mutismo como, por exemplo, atraso no desenvolvimento motor e na linguagem, bem como problemas de controle do intestino e da bexiga. (CUNNINGHAM, BOYLE, McHOLM, PATEL, 2004; COBRHAM, PADDS, SPENCE, 1998; STEIN, 2001; GUTENBRUNNER et. al. 2001; CLINE & BALDWIN, 2004). Kolvin & Fundudis (1981) reportaram que 58% das famílias de 24 crianças mudas eletivamente demonstraram alguma combinação de patologia paterna, patologia familiar e discordância entre os pais. Para além dos fatores como o comportamento ansioso e questões temperamentais, relatam também que, nessa mesma amostra de 24 mudos eletivos, 42% apresentavam enurese e 17% encoprese, e 46% das crianças apresentavam uma dessas formas de incontinência de dia ou à noite, ou ambos. Metade das crianças demonstrou dificuldade na linguagem. Em outra amostra, constituída por 100 crianças com mutismo, verificou-se que 18% revelaram atraso no desenvolvimento motor, 24% demonstraram atraso no treinamento de ir ao banheiro e 38% incluíram atrasos na linguagem, articulação e expressão lingüística (GRAY, JORDAN, LIVINGSTON e ZIEGLER, 2002; STEIN, 2001). Kristensen (2001) encontrou, em uma amostra de 54 crianças com mutismo, 68.5% que justificavam a análise por critérios de distúrbios no desenvolvimento motor ou da linguagem, 74.1% por critérios de transtornos de ansiedade, e, 46.5% por critérios de ansiedade e atraso no desenvolvimento. O histórico familiar e comportamentos de ansiedade dessas crianças apontam para preocupações excessivas, problemas de separação, fobias, hipervigilância, evitação social, palpitação, taquicardia e relação simbiótica entre mãe e filho, além de superproteção materna (KROHN et. al, 1999; HAYDEN, 1980; WILKINS, 1985). As mães foram descritas como solitárias, deprimidas, hostis na relação com o marido, passivas, apresentando dificuldades de comunicação. A relação entre mãe e filho era considerada como fechada, dependente e controladora. Muitas são economicamente instáveis, socialmente isoladas e desconfiadas em relação a pessoas fora de seu ambiente familiar próximo (KROLIAN, 1999). Há uma premissa de que essas famílias têm pouca confiança na sociedade e isolam-se de todas as formas de contato externo. Alguns autores comentam haver ainda falta de comunicação entre os familiares. A crise então ocorre quando a criança precisa dar um passo para fora desse sistema mais fechado. Essa lealdade à família excede a pressão para interagir com estranhos e o mutismo então aparece. Numa pesquisa realizada com trinta crianças com mutismo, Black & Uhde (1992) descobriram que 23% de seus pais eram descritos como um pouco tímidos; 20% moderadamente tímidos; 57% extremamente tímidos. Quanto ao prognóstico do transtorno, muitas divergências são encontradas. Algumas crianças apresentam resultados que demonstram um decréscimo dos sintomas, enquanto outras apresentam um curso crônico que se estende por muitos anos (KOLVIN & FUNDUDIS, 1981). Um estudo que acompanhou e avaliou crianças com mutismo na Alemanha, durante 12 anos, descobriu-se que 39% delas demonstraram uma completa remissão dos sintomas do mutismo e os demais apresentavam problemas de comunicação (GUTENBRUNNER et. al. 2001). Ford, Sladeczek, Carlson & Kratochwill (1998), desenvolveram uma pesquisa com 92 crianças e 9 adultos que apresentavam critérios diagnósticos de MS e 43 crianças e 9 adultos que tinham previsivelmente experenciado mutismo. Os adultos e crianças que não tinham mutismo há muito tempo - a idade de cessação dos sintomas variando entre 5 a 10 anos, mesmo depois de extinto o comportamento da recusa em falar, relataram dificuldade de se manifestar verbalmente em certos lugares e desconforto em reuniões sociais.
Maria Rosa Lopes